domingo, 31 de julho de 2011

Cada um educa um!

Às vezes é difícil contornar o clichê da vida imitando a arte ou vice-versa. No caso do filme Preciosa: Uma história de esperança, não farei nenhum esforço para fugir a esta comparação. É certo, infelizmente, que a arte imita a vida, quando o roteiro traz o que ela tem de pior. Uma família completamente caótica, concentrando todas as mazelas que costumamos ver diluídas entre diversas outras famílias consideradas "apenas" desestruturadas. Desprezo, violência física, violência psicológica, violência sexual, gravidez precoce, falta de perspectiva, obesidade, exploração do trabalho, abandono intelectual, contaminação por HIV, etc. A """família""" (e ponha aspas nisso!!!) de Claireece Precious Jones, personagem principal da trama, ainda que representada quase todo o tempo por ela e pela mãe (os outros integrantes como o pai, a avó, a filha com síndrome de Down e o recém nascido Abdul, têm participação mais efêmera) pode ser considerada uma caricatura daquilo que permeia o imaginário popular sobre como é a vida de negros pobres. Uma caricatura que, obviamente, hipertrofia os aspectos negativos, reforçando o estereótipo de que desta situação, nada se aproveita.
A imitação da vida também aparece de maneira bastante "espelhada", quando o filme evidencia a incapacidade da escola regular para dar conta de sujeitos tão peculiares quanto a jovem Preciosa, que aos 16 anos, ainda não aprendeu a ler e escrever. Oxalá a imitação continuasse com a idéia sensata de que é necessário buscar outras alternativas (e não necessariamente uma "escola alternativa") quando alguém não se adapta ao sistema padronizado de educação. Já sabemos pelas ações de alguns movimentos sociais, comentados mais de uma vez neste blog (veja aqui e aqui ) que, modificar a maneira de educar para atender as reais necessidades daqueles que vivem em situação precária e de alto risco, não é mera ficção, é uma realidade evidente para a qual o nosso sistema educacional público fecha os olhos, e nossos professores se recusam a enxergar, quando persistem em culpar as famílias pelo fracasso escolar de seus alunos.
Imitemos a arte, por que quase sempre ela nos apresenta soluções preciosas... (Humpf! Além de clichê, trocadilho besta...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário