sábado, 22 de maio de 2010

Sem legendas!

Você já deve ter ouvido falar que não existe piada velha, existe piada mal contada. Pois, creio que esse "princípio" se estenda a qualquer história que possa ser narrada por alguém. Neste documentário nacional intitulado Pro Dia Nascer Feliz, não há grandes achados. Não nos depararemos com cenas que nos levem a dizer: "- Nossa! Não sabia que era assim". O jeito de contar, entretanto, faz toda a diferença. Os personangens, depoimentos e imagens, vão se entrelaçando em cada cena, como argumentos incontestes de que a nossa educação pública precisa melhorar muito para ficar ruim. Nossos jovens não têm, nessa escola, a base sólida onde se apoiar para não caírem nos abismos das drogas, da violência, da marginalidade, da gravidez precoce, do subemprego, da desilusão. Ao final - isso é inevitável - eles vão ser responsabilizados pelas suas escolhas. Ninguém vai lembrar, contudo, que as opções eram muito poucas, e as mais corretas estavam longe de serem as mais atraentes.

Será um déjà vu?

Quebrando a sequência - mas ainda não a hegemonia - dos filmes americanos postados aqui, temos agora um filme francês. Entre os Muros da Escola (Entre les Murs) é um filme tão realista, que temos a nítida impressão de já tê-lo visto antes. Talvez não no cinema, tampouco no DVD. Se temos algum trânsito pelas escolas públicas, certamente iremos achar tudo muito familiar, exceto o francês, se optarmos por assisti-lo legendado.
Não esperem a grande salvação. Não é um filme de final feliz. O quase pessimismo do filme, contudo, nos leva à reflexão e mostra a importância de cada palavra, cada pequeno gesto realizado em sala de aula, e como eles podem "crescer" exponencialmente, tal como uma bola de neve rolando montanha abaixo.
O professor François Marin é o fiel depositário deste jogo de forças, que venho chamando a atenção neste espaço, entre o querer fazer e o saber fazer. Professor dedicado e preocupado com seus alunos, filhos de imigrantes em Paris, Marin enfrenta bem os obstáculos do dia-a-dia da escola, até cair em uma armadilha feita pelos seus alunos. Na tentativa atabalhoada de se livrar dela, termina levando mais pessoas para lhe fazerem companhia.
Acredito que refletir sobre os erros (e também os acertos) do Professor Marin, nos ajudará a tomar decisões mais sensatas nas nossas muito parecidas salas de aula.

Escrevendo a própria história...

Fechando a trilogia do que considero um "filme-americano-sobre-escola-de-periferia-baseado-em-fatos-reais", temos Escritores da Liberdade (Freedom Writers). A espinha dorsal do roteiro é a mesma dos filmes postados anteriormente (O preço do desafio e Coach Carter). Um professor (no caso, uma professora) novato, mas cheio de entusiasmo, assume uma turma problemática em uma escola não menos problemática, situada em um bairro periférico em alguma cidade norte-americana. Os alunos são adolescentes e jovens sem perspectivas de futuro, pressionados pela necessidade de trabalhar, pelos dramas familiares e pelo assédio do tráfico. A escola se sente totalmente impotente para mudar esse cenário, por acreditar que seus alunos optaram por estar nessa situação. Já o professor (ou professora), acreditando que pode ser diferente, se envolve tanto com a missão de "salvar" os seus pupilos de um fracasso quase inexorável, que chega a prejudicar suas relações familiares.
Dois aspectos, entretanto, diferenciam este filme dos demais, além do fato de ser uma professora - e não um professor - a protagonista da história. Primeiro, a questão étnica. Mesmo sendo elemento marcante nos dois outros filmes (em O preço do desafio, a narrativa se pasa em um bairro de imigrantes latinos, em Coach Carter, em um bairro negro), em Escritores da Liberdade a multiculturalidade traz um elemento complicador à trama. É uma escola que abriga na mesma sala de aula, descendentes de latinos, orientais, negros e um único branco. Embora esse fato só acirre as relações, é também o mote utilizado pela professora para levá-los a se entenderem, entendendo "o outro".
O segundo aspecto que diferencia o filme em questão é a abordagem mais "sedutora" da nossa personagem principal. Enquanto os professores Jayme Escalante e Ken Carter beiram o autoritarismo nas suas ações, a professora Erin Gruwell, prefere argumentar e convencer sua turma a aceitar as diferenças e trabalharem juntos pela construção de um futuro mais promissor para eles mesmos. Assistam, vibrem, chorem e comentem...